Este artigo foi escrito já alguns meses e publicado na Revista O ESTETO da AMNI e também está no site deles, pra mostrar que já penso em escrever sobre isso a algum tempo, vejamos…
Você já se atreveu a questionar a realidade da vida humana? Já tentou questionar tudo aquilo que lhe ensinaram desde criança como a absoluta certeza sobre a vida, a morte e a vida após a morte? Pois aqui vai um pouco do meu pensamento sobre a jornada neste mundo, uma busca por uma verdade ou pelo menos a aceitação da realidade.
Durante a vida de todo ser humano chegamos aos questionamentos básicos como: Quem sou? De onde vim? Para onde vou?… Tais questionamentos são consequência da nossa própria evolução, que nos tornou criaturas curiosas e insaciáveis por encontrar uma resposta para tudo no mundo e, sim, é realmente angustiante não saber responder alguma coisa, ao ponto de que preferimos inventar uma resposta a não ter nenhuma resposta. E é justamente por causa desta necessidade de respostas que muitas vezes simplesmente aceitamos respostas prontas dadas a nós desde criança. Mas em algum momento da vida essas respostas não me pareciam muito coerentes com a forma que eu mesmo levava a vida e tratava os problemas. Questionar a realidade tornou-se uma possibilidade e com ela a percepção de que as coisas podem não ser como me foram ensinadas.
Entender a necessidade de prova e de teste pôs em cheque todos os meus conhecimentos sobre religião, crenças ou filosofias superficiais que nos levam à vida, logo tudo aquilo que acreditava parecia falso ou ao menos insuficiente. Num universo onde nada pode ser provado ou contestado, em um mundo onde nada é eterno ou, se é que existe com algum propósito, a ideia de morte e que a vida não tem sentido me vieram à mente.
Negação, no instante em que se percebe que suas “verdades” podem não ser verdades e perceber que seus maiores medos podem ser reais, a negação foi a minha reação mais natural. Se dizer que tudo isso é uma grande besteira, que é melhor acreditar nisso ou simplesmente negar que chegou a cogitar isso pode funcionar por um tempo, mas ao passo que sua mente já se abriu para a possibilidade da realidade pode ser diferente do que julgar que suas crenças ou filosofias seja um caminho sem volta. Essa discussão não se passa em um dia ou em um mês, é uma jornada de décadas até você vencer o medo e abrir os olhos para tal realidade, que pode ser assombrosa.
No tempo que sucede este conflito interno o desespero de não querer ver pode tomar conta de você e todas as frases prontas ouvidas a vida toda ficam se repetindo indefinidamente, querendo silenciar a possibilidade de existir algo diferente, afinal “o homem sem Deus é um animal” ou “na dúvida, é melhor fazer isso por que imagina se…” ou ainda “tem que existir algo além disso, se não nada faz sentido…” ou ainda “tem que existir algo se não a vida não tem sentido” mas precisa? – Opa não, não, não, não, é claro que existe algo além! É claro que existe! Eu acredito! Eu tenho fé! Eu tenho fé!…
Não. Não existem garantias, não existem provas, não existem certezas além das que você mesmo escolhe acreditar, mas perceber a incerteza da realidade e que na verdade nada pode ser ignorado ou descartado pode ser libertador.
Aceitação. Este é o ponto que poucos aceitam passar – para mim foram décadas – aceitar, que a realidade pode não ser o que pensamos ou o que desejamos, pode ser tão doloroso que viver na ignorância negando a realidade e se fechando numa caixa de certezas absolutas é o único caminho aceitável. Mas, entender que talvez não exista nada após a morte, não precisa ser algo desesperador, na verdade se permitir pensar sobre o assunto pode ser libertador.
Perceber a finidade do ser humano, suas limitações e sua mortalidade me faz entender o quão importante é estar vivo aqui e agora. Somente teremos esta oportunidade e esta é a certeza que tenho, todo o resto é possibilidade. Então, viver o aqui e o agora, fazer o bem, aproveitar a vida e ser feliz é algo muito mais importante do que ritos e tabus. Aceitar a morte não precisa ser algo triste ou desesperador, é simplesmente algo triste como o fim de um bom livro que temos ou nos despedir daqueles personagens que acompanhamos por tanto tempo e aprendemos a gostar. Alguém que cruzou nosso caminho, vimos cair, vimos chorar, vimos sorrir, por quem torcemos, por quem sofremos e nos orgulhamos. Cumpriu seu objetivo, venceu seus próprios desafios e, finalmente, como estar lendo a última página de seu livro, percebemos que esta história chegou ao fim.
Por Ronaldo C. Diniz
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